sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Conversas sobre um tempo: Tropicalismo Liberdade e Alegria






Evocar essa época ou essa metamorfose destaca a grande importância histórica de um tempo cheio de inovações, descobertas, mudanças, irreverência, informalidade e novos conceitos. Remete a um passado não tão distante e que foi uma verdadeira implosão e explosão de propostas renovadoras a ponto de revolucionar o cenário cultural e desencadear um movimento musical intitulado Tropicalismo na década de 1960, surgindo sob uma forte influência de correntes artísticas de vanguarda que incorporaram o erudito e o popular, além da cultura POP, como o rock, tendo como pano de fundo a vida política do País regido pelo autoritarismo da ditadura militar.

Dado ao caráter repressivo do período em questão, a intelectualidade explodiu com toda força surgindo o movimento musical da união de artistas baianos no Festival de Música Popular Brasileira promovido pela Rede Record em São Paulo e Rede Globo no Rio de Janeiro, com representantes significativos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé, Gal Costa dentre outros. No III Festival de 1967, Caetano Veloso interpretou “Alegria,Alegria” e Gilberto Gil ao lado dos Mutantes -“Domingo no Parque”.

Há estudiosos que dividem o período em artistas que herdaram da Bossa Nova, como Chico Buarque, outros que dirigiam canções de protestos como Geraldo Vandré e os que produziam músicas com influência do rock inglês que ficou conhecido como iê-iê-iê ou Jovem Guarda, com Roberto Carlos, Wanderléia e Erasmo Carlos.

Foi um movimento marcante e original ao mesclar aspectos da cultura nacional com o pop art. À época foram lançadas canções inéditas e críticas ao regime militar. Influenciou o Cinema Novo de Glauber Rocha, lê-se Terra em Transe. Modernizou a música brasileira quebrando paradigmas e criou novos padrões estéticos e de comportamento. Possibilitou a mistura de vários estilos musicais como o rock, bossa nova, baião, samba, bolero, dentre outros, criando um estilo de letras em tom poético sobressaindo as críticas sociais. O movimento passou a ser chamado Tropicalismo em fev/1968 com a publicação de um artigo intitulado “A Cruzada Tropicalista” de autoria de Nelsinho Motta no Jornal Última Hora.

A essência era musical, mas também atingiu esferas culturais como as artes plásticas, o cinema, a poesia, influenciou também o segmento da moda e do vestuário estimulando a ousadia, as cores vivas, chamativas, coloridas e vibrantes através dos tons laranja, verde, vermelho, rosa, etc. Era preciso criar uma nova maneira de encarar o mundo, pois o mundo e as pessoas mudaram, era preciso abrir espaço para o novo, introduziram então os instrumentos musicais eletrônicos e desenvolveram arranjos musicais eruditos. Produziram canções que o imaginário do público da MPB ansiava, esse choque com o antigo arejou a cena musical e artística, abrindo a vitrine do novo para o Brasil e o mundo.


Os discos Tropicalistas que mais fizeram sucesso foram:
  • Tropicália – 1968 – Mutantes
  • Caetano Veloso – 1968
  • Louvação – 1967 – Gilberto Gil

Músicas marcantes:
  • Tropicália – Caetano Veloso / 1968
  • Alegria, Alegria - Caetano Veloso / 1968
  • Atrás do Trio Elétrico – Caetano Veloso / 1969
  • Cadê Teresa – Jorge Ben / 1969
  • Aquele Abraço – Gilberto Gil / 1969

Vale ressaltar que a música Tropicália foi uma espécie de símbolo e síntese das ideias do movimento...

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central
Do país

Viva a bossa -sa-sa
Viva a palhoça -ça-ça-ça-ça
(…)
Domingo é fino da bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai a roça
Porém

O monumento é bem moderno
Não disse nada do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Viva a banda -da-da
Carmem Miranda -da-da-da-da "


Sem esquecer, é claro, da música Alegria,Alegria que faz referência às condições de vida imposta pela ditadura, mudanças de costumes, retrata a liberdade de pensamento, uma canção voltada para uma nova tomada de consciência …

 

"Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou…

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou…

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot…

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou…

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não…

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou…

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou…

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil…

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou…

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou…

Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não…
Por que não, por que não "


Outros nomes ligados ao Movimento:
  • Helio Oiticica
  • Capinam
  • Wally Salomão
  • Maria Bethânia
  • Sergio Sampaio
  • Jorge Mautner, dentre tantos outros ...






Enfim, o Tropicalismo foi um marco oficial e se transformou em um verdadeiro patrimônio musical da história da Música Popular Brasileira.

Inesquecível.




















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