quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Das Marchinhas, Confetes, e Serpentinas até o Trio Elétrico ... Os Tempos de Momo!



 
Em época de web, os internautas buscam novidades, inovações e acima de tudo novas tecnologias voltadas para o rico e crescente universo do carnaval, mas não podemos esquecer que o carnaval do passado viveu dias tão gloriosos quanto os atuais, e sem me deter em clima de saudosismo, nem poderia, afinal a fila anda rapidamente, querer reverenciar aquele que foi o início de tudo, o início do eterno carnaval é sempre muito prazeroso e altamente gratificante.

Voltemos aos bailes das máscaras, das serpentinas e dos confetes coloridos jogados aos montes nos salões ao som das inesquecíveis marchinhas de carnaval ... tinha poesia ...

“Pastorinhas” de autoria Noel Rosa – Braguinha - 1934
“A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar”
“A Jardineira” de Benedito Lacerda – Humberto Porto - 1938

"Ó jardineira porque estás tão triste
Mas o que foi que te aconteceu
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu

Vem jardineira vem meu amor
Não fiques triste que este mundo é todo seu
Tu és muito mais bonita
Que a camélia que morreu"
 
“Quem Sabe, Sabe”  de autoria de Jota Sandoval-Carvalhinho - 1955

"Quem sabe, sabe
Conhece bem
Como é gostoso
Gostar de alguém

Ai morena deixa eu gostar de você
Boêmio sabe beber
boêmio também tem querer"
E dentre tantas outras ... “Máscara Negra” de Zé Keti- Pereira Mattos - 1966

“Quanto riso oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da colombina
No meio da multidão

Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou e te beijou meu amor
Na mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval”

Em meio às danças do baile, os olhares se cruzavam, as máscaras impediam que as identidades fossem reveladas e no dueto de Chico Buarque com a inesquecível Elis Regina, na canção “Noite dos Mascarados” ...

“Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal
Deixe a
festa acabar
Deixe o barco correr
Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
Da maneira que você me quer
O que você pedir
Eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

E nesse clima de “deixar o barco correr” o anonimato das máscaras protegiam os desejos mais secretos e íntimos de viver tudo que se quisesse, sem medo de ser feliz ...

A atração que esses bailes de máscaras exerciam nas pessoas era fascinante, envolvente e tentador e a sensação que produzia era a de invisibilidade, fetiche e liberdade. 

E, claro, com o passar dos anos e a evolução natural dos tempos, as coisas mudaram, e muito, o carnaval ganhou menos adereços, menos roupas, menos pompas, menos tudo ...  só o que não mudou é a alegria, esta sim, continua a mesma,  contagiante, efervescente, energizante. 

E sem esquecer que o palco está aqui na Bahia e que vem de tempos atrás, essa festa de alegria e alegoria faz parte da cultura da folia baiana. 

Já na década de 70, “Atrás do Trio Elétrico” de autoria de Caetano Veloso,

“Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lado  lado, de lá

O sol é seu, o som é meu
Quero morrer, quero morrer já
O som é seu, o sol é meu
Quero viver, quero viver lá
Nem quero saber se o diabo nasceu
Foi na Bahia, foi na Bahia
O trio eletro-sol rompeu no meio dia
No meio dia”

"Chuva,  Suor e Cerveja", também de Caetano Veloso - 1971
"Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrô molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha veja deixa beija seja
O que Deus quiser

A gente se embala, se embola
Se enrola, só pára
Na porta da igreja
A gente se olha
Se beija, se molha
De chuva suor e cerveja"
 

 "A Filha da Chiquita Bacana" de Caetano Veloso - 1975
"Eu sou a filha
Da chiquita bacana
Nunca entro em cana
Porque sou família demais
Puxei à mamãe
Não caio em armadilha
E distribuo banana
Com os animais

Na minha ilha iê iê iê
Que maravilha iê iê iê
Eu transo todas
Sem perder o tom
E a quadrilha toda grita
Iê iê iê
Viva a filha da chiquita
Iê iê iê
Entrei pro women's liberation front"

Foi através dessas músicas de Caetano que divulgou para todo o Brasil o fenômeno que estava restrito apenas em Salvador, que era o trio elétrico.

Teve origem em Salvador em 1951 e ao longo das décadas se tornou o grande atrativo do carnaval da Bahia, um verdadeiro fenômeno de massa.

Foi uma criação de Antonio Adolfo Nascimento, o Dodô e seu amigo Osmar Álvares Macedo que adaptaram uma fobica ligando à bateria do automóvel a um violão e um protótipo de guitarra e saíam pelas ruas tocando músicas atraindo uma multidão. Estava escrita a história da maior festa popular do mundo.

Com o aperfeiçoamento das tecnologias foram melhorando a performance dos trios e nos dias de hoje, vemos caminhões adaptados com aparelhos de sonorização que tocam músicas ao vivo. É um espetáculo a parte.

A medida que os trios foram ampliando em tamanho, surgiu a necessidade de organizar os foliões por blocos e para isso, necessitava de uma identificação. Foram os tempos das “mortalhas” aqueles camisões coloridos que eram verdadeiros roupões, cobria todo o corpo, se duvidar, até os pensamentos ... rsss...

Então, os blocos saiam nas ruas e passaram a se isolar dos demais foliões por meio de cordas de segurança. Tudo era bem civilizado, popular e participativo e o tempo passa ... sem pressa, os blocos vão substituindo e aperfeiçoando as fantasias, chegando nos "abadás" até os dias de hoje, que consiste em camisas com a identificação do bloco.

Existe uma verdadeira indústria do carnaval, tudo é profissionalmente muito bem planejado e organizado com bastante antecedência, os foliões pagam muito bem para fazer parte do bloco de sua preferência e objeto de desejo, não só pelos artistas, mas por outras atrações como a banda, o/a vocalista, os convidados, e por todos os burburinhos, aparatos e movimentos que circulam e circundam todos os dias da festa. 
E que festa !!!

Para se ter ideia, movimenta um mercado publicitário milionário,  uma verdadeira disputa pelas cotas de patrocínio e pelos melhores e mais visíveis espaços. Todas as TVs e antenas estão de olhos ligados em Salvador / Bahia.
É o maior espetáculo popular do Brasil e se não for pretensão dizer, do mundo.

O advento do trio elétrico marcou não só o hit do carnaval baiano como alavancou a economia local com o turismo cultural.

E, para entrar no clima dessa festa contagiante e energizante, só no embalo da música de Marcia Freire “Lambada de Delícia/Kirika na Buçanha” no refrão ...

“Já é carnaval cidade
acorda pra ver (bis)
a chuva passou cidade
e o sol vem aê (bis)”

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